terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Respiração e apoio (parte I)

Toda primeira aula de canto trata do mesmo assunto: a respiração. É ou não é? O problema é que uma ação tão automática na nossa vida vira um bicho de sete cabeças quando tentamos racionalizar. O que é apoio? O que é energia respiratória? Coluna de ar, cantar com a barriga, usar o diafragma?!?!?! Parou tudo! Chega de imprecisões na linguagem! Vamos desvendar esse mistério. (Nesse post vamos tratar das explicações teóricas. Posteriormente você encontrará dicas de exercícios práticos de respiração.)

A respiração compreende duas fases definidas: a inspiração e a expiração. A inspiração é sempre uma fase ativa, pois os músculos abdominais trabalham abrindo de forma elástica a caixa torácica. Devido ao jogo de pressões, o ar entra nos pulmões. Já a fase expiratória é, geralmente, uma fase passiva, isto é, os músculos entram em relaxamento, fazendo com que a caixa torácica diminua de tamanho e expulse o ar dos seus pulmões para fora. Porém, para o cantor a fase expiratória precisa ser mais longa. Sendo assim, o cantor aprende a controlar seus músculos procurando mantê-los em posição inspiratória (ativos) por períodos mais longos. A expiração para o canto é, portanto, uma fase ativa também. Isso não significa, de forma alguma, que o cantor precisa fazer muita força muscular ou cantar em estado de tensão. Esses músculos precisam trabalhar de forma fácil e eficiente.

Muitos termos usados por professores de canto induzem o estudante ao erro. É o caso da expressão "cantar com o diafragma". Muitos estudantes se perguntam "Como isso é possível? Como posso saber controlar sua ação?". É uma boa pergunta. Nenhum de nós tem controle direto sobre o diafragma. Ele é quase passivo durante a expiração do cantor. Ele é empurrado para baixo durante a inspiração, cedendo lugar ao ar, e volta ao pericárdio quando há expulsão de ar. Na tentativa de retardar a expiração, alguns tentam empurrar a barriga para fora ou pressionar o botão imaginário na altura do estômago. Muitas vezes a intenção é simplesmente não concentrar a respiração na parte alta do tórax (a chamada "respiração clavicular").

A boa respiração faz bom uso da sua caixa torácica. Isto significa que você não deve usar só uma porção dos seus pulmões para ter ar. Você também não precisa puxar o ar para dentro, sugando-o com violência. Se você fizer isso, provavelmente vai super-oxigenar e ficar tonto. O primeiro passo é "abrir a gaiola".

A sua caixa torácica é sustentada pelo esterno e pelas costelas, que, por sua vez, guardam os pulmões. Revestindo essa gaiola, você tem diversos músculos abdominais e intercostais. Os músculos que entram em estado de relaxamento na expiração. Para dar espaço ao ar, é necessário abrir as costelas e levantar o esterno, mantendo-o em posição de inspiração. Afundar o esterno provoca a respiração alta ou clavicular.

Na saída dos pulmões, o ar percorre os brônquios e traqueia, encontrando, enfim, a laringe (onde a voz é produzida). Na laringe existem músculos e cartilagens que participam diretamente do processo fonatório, além das pregas vocais. As pregas vocais (popularmente "cordas vocais") não se tratam de cordas, mas de pregas musculares revestidas de mucosa. As pregas se abrem (abdução), dando espaço à passagem de ar, durante a inspiração; e se unem (adução) na produção da voz. À abertura localizada entre as pregas vocais, é dado o nome de glote. Sendo assim, a glote está aberta na inspiração do cantor e fechada durante o canto. Na fonação, o ar proveniente dos pulmões provoca a vibração das pregas vocais, devido à pressão. Durante o canto, porém, é necessário controlar o fluxo de ar de modo a não acumular demasiada pressão subglótica nem de reduzir demais o volume pulmonar em intenso fluxo de ar. Para isso é preciso ter a atenção de ouvir e sentir se o fluxo de ar gera tensão laríngea ou gera uma voz muito soprosa.

Será mantida, assim posição inspiratória durante a fonação do cantor. A fonação é análoga ao processo de expiração enquanto ambas consistem em perda do volume de ar, mas é preciso maior resistência dos músculos intercostais durante a fonação do que na expiração. Essa resistência sustentada pelo cantor é chamada de apoio. No apoio, pouca movimentação abdominal é percebida, embora a musculatura esteja em atividade. Não deve acontecer movimentos bruscos e intensos para dentro e para fora. Intensos empurrões da região abdominal são muitas vezes sugeridos por professores ou regentes de corais. Esse tipo de prática aumenta muito a pressão subglótica e descontrola o início do som. O cantor deve estar mais preocupado em manter sua posição de abertura corporal sem rigidez.

Outro aspecto importante da respiração para o canto é o canal supralaríngeo. O canal supralaríngeo consiste no canal nasal, a boca e toda a faringe, desde a nasofaringe até a abertura superior da glote. Muito pouco se fala desse canal como parte integrante da respiração. Esse canal, porém, também precisa estar aberto à passagem de ar. O cantor pode e deve usar não apenas o nariz, mas a boca na inspiração. Todas as mucosas faríngeas são elásticas e podem ser exercitadas em favor da respiração. Aqui também se aplica manter a posição inspiratória, mas a inspiração pode também explorar maior expansão faríngea. Essa expansão é natural na origem do bocejo, onde provoca abertura faríngea somada ao levantamento velar (palatal). Sensação indutiva é, frequentemente, representada por "inspirar na altura do terceiro olho". Essa posição inspiratória favorece o início da fonação, pois já induz a projeção da voz. O cantor, muitas vezes desmonta a posição inspiratória antes de uma nova inspiração. Isso é uma compensação psicológica natural da posição expiratória. É preciso treino para reverter esse reflexo.


Por hoje é só! Até o próximo post!




(Imagem retirada de http://saladeobservacao.blogspot.com.br/2012/02/como-funciona-nosso-corpo-respir 
acao.html?m=1)

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